Brasil: país do futebol feminino?
Ao ver a seleção feminina de futebol jogando tão bem, poderíamos imaginar que os resultados devem-se ao fato de enfim o cenário ter apresentado mudanças e as mulheres terem obtido mais oportunidades e investimento.
Infelizmente, não.
E essa situação complexa se inicia na base. O que essas meninas enfrentam para jogar futebol é totalmente discrepante da realidade que merecem. Isso quando existe a possibilidade de fazer parte das categorias de base de algum clube.
A própria seleção feminina precisa organizar peneiras para montar o seu elenco sub-15, dada a insuficiente aplicação de recursos na formação em todo o país e, por consequência, a ausência de competições que permitiriam a avaliação e convocação de jogadoras. Assim, muitas dessas meninas, embora nunca tenham jogado profissionalmente, competem contra seleções de países que investem no esporte escolar e universitário, como os Estados Unidos*.
Desta forma, ao decidirem se tornar jogadoras de futebol, dificuldades para chegar ao Centro de Treinamento, a falta de apoio por parte dos familiares, estruturas de treinamento inadequadas, pouca oferta de clubes que dispõe de categoria feminina e discriminação são “apenas” alguns dos obstáculos pelos quais estas guerreiras têm que passar para conquistar o seu sonho.
Sim, “guerreiras”. Ser uma atleta, não só de futebol, como de outras modalidades esportivas, é “remar contra a maré”. É ter que demonstrar todos os dias a sua capacidade diante de atitudes veladas, ações disfarçadas de comportamentos naturais, daqueles que em pensamento questionam “o que elas estão fazendo aqui? Por que essas meninas não vão procurar uma louça para lavar?”.
Já avançamos muito, mas ainda há muito a se conquistar: incremento de políticas públicas que garantam o acesso de meninas à prática de exercício físico/esporte; maiores investimentos governamentais e dos clubes; mais visibilidade e patrocínios; ampliação do número de mulheres na direção de federações/confederações e outros órgãos decisórios. E, evidentemente, mais respeito e menos preconceito.
Que a necessidade de transformação não fique apenas no discurso, que o esporte dê exemplo à sociedade e mude paradigmas. Que demorem seis, dez anos – modificações não ocorrem em três meses ou em um ano -, mas que esse processo se inicie e tenha continuidade, com compromisso e profissionalismo.
Thaise Coutinho
*Referência: GloboEsporte.com