Coordenador da base do Grêmio valoriza simplicidade no trabalho e formação acima dos resultados

Formar jogadores. Esse tem sido uma marca do Grêmio nos últimos anos. O clube revelou inúmeros talentos e fez grandes vendas ao exterior, sem deixar de aproveitá-los no time principal. Essas características fazem do Tricolor o vice-líder no Ranking DaBase nacional e o primeiro colocado na Região Sul.

Um dos responsáveis por esse sucesso é o coordenador geral das categorias de base, Franceso Barletta. Em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br, ele destacou a simplicidade do trabalho, que coloca a formação acima dos resultados em campo. O profissional também comentou sobre a integração entre base e profissional, a ampliação do CT Hélio Dourado e a decisão de não disputar torneios estaduais.

DaBase: Quais são os princípios que regem o trabalho na base do Grêmio?

Francesco Barletta: O objetivo do trabalho é preparar atletas para a equipe principal e, e se não for possível, prepará-los para todos os níveis de futebol, dos mais ‘Tops’ da Europa até as divisões regionais. Acreditamos que assim levamos o valor do Grêmio para o mundo. O objetivo principal é que os atletas joguem aqui, performem e posteriormente sejam vendidos. Essa é a ideia principal. Se não der, colocamos no mercado. E também trabalhar várias características do jogador em suas posições, como um lateral ofensivo e outro defensivo, um volante marcador e outro que sai para o jogo. Se tiver com as duas características, melhor ainda.

DaBase: O que o Grêmio tem feito de diferente nos últimos anos para revelar tantos atletas?

Francesco: O que o Grêmio tem feito de diferente é expor os jogadores, colocá-los em enfrentamento, é a grande diferença dos últimos anos. Você acaba enfrentando atletas mais preparados, em condições melhores que a sua, e isso eleva o nível. Tentamos fazer isso, sair pelo mundo para enfrentar as melhores escolas.

DaBase: Muitos clubes vendem jovens promessas ainda sem estrear pelo profissional. Já o Grêmio tem negociado jogadores apenas após suas afirmações no elenco principal. Como o clube resiste ao mercado que olha cada vez mais para a base?

Francesco: Não tem sido fácil. Em 2018, a média deidade das transferências para a Europa foi de 18 anos. Eles tem buscado muitos jovens para desenvolvê-los de acordo com sua filosofa.. O clube tem tentando de todas as formas trabalhar para segurar os atletas, pois o grande objetivo do Grêmio é formar, ganhar rendimento esportivo para depois vender.

DaBase: Nesse sentido, o Grêmio vem renovando contrato de muitos jovens atletas e mantém uma equipe de transição para que eles continuem no clube após passarem de 20 anos. Qual a importância dessas duas ações?

Francesco: Justamente pelo assédio do mercado, temos renovado muitos contatos do sub-17 e de jogadores que fizeram 18 (anos) esse ano, valorizamos muito essa situação. Temos o trabalho do time de transição, que não é um sub-23. Serve para adaptar os atletas ao profissional, tanto que essa categoria não é da base, e sim do profissional. Ela faz o link final com a primeira equipe. É uma filosofia do clube, formar, promover, performar, vender ou dar sequência na carreira do atleta. Com isso, conseguimos dar uma maior sustentação para o jogador da base subir ao profissional.

“Aí entra o entendimento da comissão técnica do time profissional, que é importante. Fundamental é entender que quando o atleta sobe, ele continua sua formação Ele não sobe pronto. Isso tem sido uma vantagem, pois a comissão técnica do profissional tem um entendimento muito bom”

DaBase: A manutenção de diretoria e comissão técnica pode ser considerada a chave do sucesso da integração entre base e profissional, já que são mantidas as mesmas metodologias e estilo de jogo?

Francesco: Sem dúvidas, a manutenção coopera. O trabalho de base é TEMPO. Não é algo que vai acontecer rápido, em seis meses, um ano, demora três ou quatro anos. A situação de não jogar competições começou em 2017 e só agora está dando resultado efetivo, de produção que esperávamos. O tempo e a continuidade são fundamentais.

DaBase: O Grêmio abriu mão da disputa dos estaduais de base a optou por torneios nacionais e internacionais. O clube pretende manter essa postura? Por que ela é mais interessante para vocês?

Francesco: Tomamos essa medida pois vimos que nossos atletas não estavam enfrentando situações diferentes, era tudo muito igual. Até para colocar os meninos no mundo, para o Grêmio se colocar fora do país. E deu certo. Pensamos em retornar ao estadual, mas ainda não é hora, ainda precisamos de outras viagens. Viajamos muito para a América do Sul, por Equador, Colômbia, Argentina, Uruguai, crescemos muito. Jogamos competição na Europa, fazia mais de dez anos que isso não acontecia. No primeiro ano, os outros clubes não entendiam muito bem a ideia, mas no segundo ano já entenderam, promoveram os jogos s, foi muito interessante.

“O primeiro ano foi de adaptação. Em Portugal, acharam que tínhamos levado o time pra mostrar os jogadores. Mas no segundo ano já entenderam nosso processo, o que é normal também. A ideia é seguir essa política, não voltar aos estaduais, mas analisamos o futuro”

DaBase: Como a ampliação do CT Hélio Dourado vai contribuir para o desenvolvimento dos atletas?

Francesco: A ampliação do CT vai dar ganhos imensuráveis ao clube. Tecnicamente falando, vai dar ergonomia para todos os funcionários, é um salto imenso de qualidade. Hoje o alojamento fica fora do CT, a cinco minutos, então fazemos muitos deslocamentos, temos que ter ônibus. Ter tudo no mesmo espaço será muito bom. O econômico também, teremos redução de despesas. Só do garoto ir para a escola a tarde, poder voltar e fazer uma sessão de fisioterapia, é um ganho muito grande. Não quando ficar pronto, em dezembro, em março já começam a ser habitado, mas sim em em 2022, já vamos notar a diferença.

DaBase: Como a base do Grêmio vem lidando com a pandemia? Já há uma preparação para a volta dos treinos presenciais, principalmente da equipe sub-20, visto que o Brasileirão deve retornar em setembro?

Francesco: Procuramos falar para os atletas cuidarem da saúde, ficarem com a família, olharem e parte econômica, deixamos eles livres nos primeiros meses para que pensassem em outras coisas. Focamos na questão escolar, aproveitamos a parada, pois é difícil dar sequência, são muitas viagens, jogos. Depois começamos uma volta gradual, física, mental e psicológica. Somente em julho voltamos com os treinos remotos, atividades por vídeo. A ideia é dar sequência ao plano de retorno do sub-20. Não há data prevista, mas queremos voltar o mais rápido possível, dependendo das questões sanitárias. Hoje no Rio Grande do Sul houve um aumento no úmero de casos (de coronavírus). Quando a curva (de contágio) abaixar, a ideia é retomar. A partir daí pensaremos no Brasileiro sub-20,. É importante, pois é uma competição Top, mas o fundamental é voltar a treinar, pois são mais de cem dias sem treinos, até pelo processo de formação.

DaBase: Qual o legado que o Grêmio deixa em relação ao trabalho de base no Brasil?

Francesco: Nosso legado é fazer as coisas de forma simples e objetiva. Não temos requinte, é um método que visa a formação. Talvez o que seja um legado é que sempre colocamos a formação acima dos resultados, preocupamos com o atleta ao invés de a equipe. Talvez esse seja um ponto diferencial. Um exemplo foi um jogo importante no sub-20 que tivemos contra o Botafogo, nosso lateral-esquerdo titular foi convocado para completar o treino da seleção principal em um amistoso em Porto Alegre. Observamos qual seria o melhor estímulo. Deixamos ele treinando em Porto Alegre e colocamos outro lateral no jogo. É um exemplo simples, mas a competição fica em segundo ugar, o principal é o estímulo e o atleta. Nosso time da Copa São Paulo não tinha todos os jogadores com idade para disputá-la, alguns estavam no time de transição que disputou a Recopa Gacha. Sempre usamos  times com atletas mais jovens. Não sei se é um legado, mas a formação sempre está acima dos resultados.

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