Gestor metodológico do Cruzeiro exalta base e explica planejamento
Entre novas diretrizes, mudanças nas comissões técnicas e busca por mais talentos, o Cruzeiro vem dando sequência ao processo de reformulação das categorias de base. Para definir os princípios dessas alterações e direcionar o processo de formação de atletas, o clube conta com um gestor metodológico identificado com a Raposa.
Próspero Paoli chegou ao clube há pouco mais de um mês com o objetivo de traçar o planejamento metodológico de toda a base e conduzir a formação de atletas com alguns ideais. Um deles é a identificação com a história do Cruzeiro, algo que o próprio dirigente tem. Ele relembrou sua ligação com a base celeste em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br.
“O Cruzeiro é um clube gigante, respeitado e que tem um DNA vencedor e formador. A história centenária do Cruzeiro é vitoriosa e muitos talentos foram formados e revelados ao longo de toda essa trajetória. Então trabalhar no Cruzeiro é uma grande responsabilidade, motivo de realização pessoal e profissional. Sou mineiro, tenho uma relação com o Cruzeiro de forma profissional desde 1985, quando levamos para Viçosa a edição da Taça BH de Futebol Júnior, competição que era organizada pelo clube – foram 12 edições. Além disso, as equipes do profissional, Sub-20, 17 e 15, por várias vezes, foram para Viçosa e a Universidade Federal para fazer temporadas de treinamentos, sempre organizadas por mim. Também tive a oportunidade de indicar muitos Profissionais que tiveram sucesso aqui e hoje estão no mercado do futebol, como Ney Franco, Alexandre Lopes, Grasseli, Alexandre Lemos, Leonardo Cherede, entre outros tantos”, disse.
Com 35 anos de experiência como professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Próspero acumula serviços prestados a CBF, Conmebol e ao Vasco, onde trabalhou nos últimos três anos. Em pouco mais de um mês de trabalho, o gestor destaca dois fatores que chamaram sua atenção no Cruzeiro: a estrutura da Toca da Raposa I, centro de treinamentos da base cruzeirense, e a qualidade dos profissionais.
“A Toca I nos proporciona excelentes condições de trabalho, inclusive uma escola de qualidade para nossos atletas. Também encontrei aqui um trabalho já iniciado pelo Gustavo, Kriwat, Maurinho, Sader e com excelentes profissionais que aqui estão. Tudo isso facilita nossa adaptação para poder contribuir e alcançarmos nossos objetivos”, avaliou.
Trazendo a vivência das salas de aula, Próspero Paoli relacionou a formação dos jovens com o aprendizado em uma escola e apontou o planejamento verticalizado, desde as categorias inferiores até a chegada ao profissional, como o método a ser adotado.
“Quando nos referimos ao processo de formação, temos que considerar que ele é de médio e longo prazo, envolve muitas categorias. Aqui no Cruzeiro, dividimos em três formações: iniciação, dos 9 aos 12 anos; desenvolvimento, dos 13 aos 15 anos; e rendimento, dos 16 aos 20 anos. A metodologia é o planejamento estratégico do processo de formação. Todos os setores, seja o técnico, da captação, da análise de desempenho, ou da fisiologia, dependem da metodologia”, explicou.
“É como se estivéssemos em uma escola formal, que respeita os ciclos de formação de acordo com as idades dos alunos. É um planejamento verticalizado, com conteúdos prioritários para cada ciclo e idade. A mesma coisa é o futebol. O processo de formação tem que respeitar especificidades de crescimento. desenvolvimento e maturação. não podemos queimar etapas. Então vejo que o principal fator é o alinhamento dos processos, dos conteúdos, interação entre as categorias, cumprir os conteúdos inerentes às idades e ao ciclo de formação”.
Para colocar essas ideias em prática e agregar as diversas personalidades no mesmo objetivo, Próspero aponta que o caminho é entender as individualidades e aproveitá-las no coletivo. Ele ainda destaca que a instituição Cruzeiro é maior que qualquer atleta ou profissional que venha a atuar no clube.
“A heterogeneidade é uma variável presente no meio do futebol. Temos que ter sabedoria para contornar e buscar o equilíbrio. O futebol necessita disso, dessa mescla. Por isso, temos no Cruzeiro um perfil de atleta por posição, com funções bem definidas, os requisitos que são básicos para cada posição. Mas temos também que considerar aspectos culturais, sociais, origem dos nossos atletas. Temos que humanizar o processo. preocupar com a formação integral do atleta e, principalmente, contarmos com uma equipe multidisciplinar de profissionais que consigam operacionalizar os processos”, analisou.
“Quanto a busca pela identidade com o clube, o atleta que vem para o Cruzeiro, independentemente de sua origem e ou condição técnica, tem que entender que o clube é muito maior que todas as pessoas envolvidas no processo. A instituição é permanente, nós estamos de passagem, inclusive os atletas. Temos que fazer o nosso melhor e respeitar o clube, conhecer sua história vencedora. Para isso, temos que ter estratégias para que os atletas possam conhecer essa história centenária, honrar a camisa que vestem e criar uma identidade com o Cruzeiro”.
Para gerar essa identificação dentro do planejamento traçado, o Cruzeiro trouxe ex-atletas para as comissões técnicas, como Wendel (técnico do time sub-14), Careca (auxiliar geral) e Leandro Guerreiro (auxiliar técnico do sub-20), além de contar com profissionais que têm história no clube – caso do técnico do sub-20, Paulo Ricardo.
Como desafio, o gestor vem lidando com um problema recorrente. A pandemia, que prejudicou principalmente as categorias inferiores pela falta de treinos e competições, possibilitou novas formas de aprendizado. Próspero destacou que o Cruzeiro vem promovendo palestras e oferecendo conteúdos teóricos aos atletas.
“A pandemia é um desafio para todos os setores da sociedade, e não foi diferente para o futebol. A base sofreu muito e vai sentir os impactos futuramente, pois ficamos sem treinos presenciais e competições por cerca de doze meses em categorias importantes. Mas no Cruzeiro, a direção teve a preocupação de criar estratégias para manter os atletas em direta relação com os profissionais. Sessões de treinos online, a parte conceitual do jogo de futebol foi muito trabalhada, além das componentes técnica e física e de uma preocupação com a formação integral dos atletas. Várias palestras, com temas variados, foram e estão sendo desenvolvidas. O trabalho não parou”, concluiu.