Leonardo Coutinho destaca fundamentos da preparação física entre jovens: “Base é correção”
Educar e ensinar são duas das palavras mais importantes quando o assunto é futebol de base. Antes dos atletas chegarem aos altos níveis de exigência, é necessário aprender o passo a passo do esporte e seguir o que seus professores determinam.
Esse é o trabalho que Leonardo Coutinho exerce há algum tempo. Um dos preparadores físicos do time sub-20 do Olímpia acredita que para formar atletas, é preciso ensinar e corrigir. Ele explicou as diferenças entre a sua função na base e no profissional em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br.
“As diferenças dependem do ponto de vista, seja social, comportamental, técnico ou tático. Nesse sentido, o profissional é um trabalho mais fácil, pois não precisamos corrigir individualmente, visamos a evolução da equipe. Na base, o trabalho é de correção. Temos que ensinar os atalhos, a metodologia da comissão técnica. É correção versus performance”, disse.
Apesar dos desafios, ele confessa que prefere o trabalho com jovens até pelo momento na carreira. Apesar de de ter somente seis anos de experiência, Coutinho já observa a evolução da preparação física no país, que cada vez mais busca a integração com as outras áreas do futebol.
“Percebe-se que a forma de condicionar os atletas está evoluindo. Antigamente, eram feitos treinos físicos puros, isolados. Hoje, tudo é feito de forma integrada e sistêmica, através de jogos condicionantes e metodologias específicas. É um modo de não desgastar o atleta e conduzi-lo de maneira integrada, incluindo todos os aspectos do jogo, com treinamentos físicos, técnicos, táticos e mentais ao mesmo tempo”, explicou, para depois detalhar sobre intensidades de cada tipo de treino.
“Nas categorias de base, trabalhamos a formação dos atletas para que eles cumpram as fases do treinamento e tenham longevidade esportiva. O volume de treinos técnicos no período de formação é o mais importante e tem que ser trabalhado o tempo todo”, observou Léo Coutinho.
Além de experiências entre base e profissional, Léo Coutinho também acumula alguns anos em escolinhas de futebol. Ele explica que, diferentemente dos clubes, o trabalho dos centros de formação é educacional, sem visar qualquer tipo de performance.
“Na escolinha, o que predomina é levar o esporte educacional, que visa formar o indivíduo inteligente, que entenda o jogo. O clube trabalha mais com performance, até a complexidade do treino é diferente. O atleta tem que melhorar em vários aspectos, a exigência é maior”, avaliou.
Para o preparador físico, o aspecto educacional do futebol é importante em qualquer âmbito. Ele acredita que, para o desenvolvimento completo do ser humano dentro do futebol, é necessário atenção de todos os profissionais envolvidos no processo, e dá exemplos disso.
“Em várias situações conscientizamos os jovens explicando sobre a importância de manter bons hábitos, como ter um bom sono, se alimentar adequadamente e, principalmente, alertando sobre as consequências de maus hábitos e comportamentos”, citou.
Trajetória
Léo Coutinho começou nos campos de várzea de Cachoeira, interior da Bahia. Apesar de pensar na carreira de jogador, ele logo viu nos estudos uma opção melhor. Começou a faculdade de Educação Física e rapidamente teve oportunidades de trabalhar em um projeto de base na cidade.
Em 2014, o preparador físico teve em sua primeira experiência o seu grande momento na carreira: o Campeonato Intermunicipal.
“A seleção de Cachoeira estava a um tempo sem ganhar um título, mais de dez anos,. Mas no meu primeiro trabalho nós ganhamos. Esse campeonato alavancou minha carreira, despertou meu interesse pela profissão. Se não fosse aquele título, talvez não estaria no futebol hoje”, cravou Léo Coutinho.
A conquista motivou o preparador, que buscou cada vez mais estudo através de cursos. Em um deles, conheceu Lucas Itaberaba, que na época era preparador do Vitória – hoje, no sub-20 do Palmeiras/SP. Observando os treinos e o planejamento do Rubro-Negro, ele criou seus próprios conceitos e embalou a carreira.
Em 2017, Leonardo começou como auxiliar de preparação física no sub-20 do Olímpia, mas sua dedicação levou ele a assumir a categoria sub-13 no desenvolvimento da base do clube. Entre passagens pelo sub-17 – onde foi campeão da Copa Brasileira de Base – e pelo sub-15, quando também conquistou a Rede Ball Cup, Coutinho chegou ao profissional em 2019.
Como auxiliar, o preparador físico fez parte da campanha do vice-campeonato da segunda divisão baiana, que quase levou o Olímpia à elite estadual. Ele havia voltado à base para a disputa do Baiano sub-20 deste ano, mas a pandemia interrompeu a preparação da equipe. No entanto, o seu objetivo principal está totalmente atrelado a esse projeto.
“O meu principal objetivo hoje é desenvolver um excelente trabalho no Esporte Clube Olímpia, conquistar títulos, formar atletas e cidadãos de bem, levar o time à Copa São Paulo e, caso faça parte da comissão, conquistar o acesso à primeira divisão baiana. Tenho o sonho de trabalhar fora do país, mas qualquer coisa que venha no futuro dependerá do que eu fizer agora”, ressaltou.
Leonardo conclui destacando os trabalhos de algumas de suas inspirações na preparação física, como Paulo Paixão, Ricardo Rosa e Fábio Mahseredjian. Além dos multicampeões, ele também mostra gratidão por quem colaborou com seu crescimento na carreira.
“Quatro pessoas alavancaram minha carreira: Lucas Itaberaba, que hoje está no sub-20 do Palmeiras, Lucas Penha, que trabalha em seu próprio estúdio, Mateus Jones – hoje no sub-17 do Vitória – , que me ajudou muito na adaptação a Salvador e na busca pelo estudo, e Neto Ruvenal, que trabalha comigo e é um parceiro, além de Miquéias Aragão. Vamos ganhar grandes títulos no Olímpia, queremos colocar nosso nome da história do clube”, finalizou.