Graduado na Europa, preparador do sub-17 do Vitória analisa mudanças na metodologia de treinos físicos na base

No futebol moderno, a intensidade é uma das bases do sucesso. Mas, para isso, é extremamente importante que todos os atletas estejam na melhor forma física. E os novos modelos de treinamento vêm possibilitando essa característica tanto na base quanto no profissional.

Dessa forma, se manter antenado sobre todas as novidades na área de atuação é fundamental para o desenvolvimento de uma equipe. E é nesse ponto que Mateus Jones se baseia. O atual preparador físico do time sub-17 do Vitória falou com exclusividade ao DaBase.com.br sobre a importância do estudo na área da educação física.
“O estudo não pode parar, ele é contínuo, pois a educação física faz parte da área da saúde, que tem novidades em uma velocidade muito grande. Temos que estar sempre ligados no que é novo, no que há de mais moderno, buscar um maior conhecimento teórico para ter o embasamento adequado na prática. É imprescindível para qualquer grande profissão”, afirmou.
O preparador físico, que soma cursos no Brasil e na Europa, incluindo a Licença B da UEFA, avalia que os treinos de hoje são diferentes dos realizados no passado, onde não havia tanta integração com a parte técnica e tática.
“Hoje realizamos a preparação integrada, buscando o desenvolvimento físico através do modelo de jogo utilizado pelo treinador. Não fazemos mais aquelas voltas em torno do campo, tiros de 100, de 1.000 metros. Fazemos toda a preparação em cima da realidade do jogo, sempre em trabalhos com bola”, contou.
Com experiência na base e no profissional, ele afirma que o foco para as categorias menores é o desenvolvimento técnico.
“Na base, os meninos estão em desenvolvimento físico e biológico, isso requer cuidados especiais. No profissional já temos seres humano formados, biologicamente e fisicamente não há tanta restrição. Enquanto o atleta não passa pelo pico do crescimento e desenvolvimento hormonal (maturação), temos que tomar cuidado com a intensidade do treino, o número de vezes que eles são realizados por semana, o tempo e o volume”
Esse processo de maturação, contudo, nem sempre é bem entendido por clubes e dirigentes. É comum ver casos de atletas de sucesso que, quando eram jovens, foram dispensados das categorias de base por serem pequenos ou franzinos demais. De acordo com Mateus, é preciso esperar a maturação completa para tomar decisões.
“Vai muito da filosofia do clube. Tem uns que importam muito com o porte físico, outros preferem aguardar a maturação completa. O ideal é esperar o pico de maturação para ver se o atleta vai se desenvolver ou se será sempre franzino, pequeno. A melhor forma de tomar decisões é esperar a maturação chegar”, disse.
O preparador do Vitória também lamentou a pausa das atividades devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, a interrupção pode gerar prejuízo técnico e de aprendizado aos jovens atletas.
“Prejudica demais. Primeiro que eles são jogadores em formação, ficar meses afastados dos treinos retardará o aprendizado em campo. A mudança de categoria também pesa, pois quem está estourando a idade terá que ir para a categoria de cima sem aprender tudo que poderia ter aprendido. São grandes prejuízos, mas não tem o que ser feito, é seguir as normas e aguardar o retorno”, comentou.

Trajetória
Mateus Jones começou a carreira em 2008, quando se tornou estagiário do Bahia. Depois de formado em Educação Física e contratado, a dinâmica dos cargos mudou um pouco sua ideia sobre futuro na área.
“Em 2009, eu era treinador no sub-12 à tarde e auxiliava a preparação física no sub-20 pela manhã. Mas percebi que eu era melhor preparador e a partir de 2010 vi que era essa era a área que mais gostava. Sempre quis trabalhar com futebol desde a faculdade, mas mudei de cargo com o tempo”, relembrou.
Ainda no Tricolor, Mateus viveu o momento mais especial da carreira em sua opinião. No ano de 2010, ele foi preparador físico da equipe sub-23, um time profissional, com apenas 25 anos. Foi seu primeiro trabalho profissional, que abriu as portas do mercado nos anos seguintes.
O preparador passou por Monte Azul-SP, em 2012, e Ypiranga-BA, em 2013, ambos no time principal. Entre cursos e ampliação do currículo, ele é pós-graduado em fisiologia e prescrição do exercício e iniciou o Mestrado em Educação, este pela University The People, da Califórnia, Estados Unidos.

Em 2017, ele participou do primeiro ano de atividade do Esporte Clube Olímpia, de Lauro de Freiras/BA. O clube fundado pelo jogador Anderson Talisca, no entanto, por questões contratuais do atual atleta do Guangzhou Evergrande, da China, precisou encerrar as atividades (voltou à ativa em 2019).
Sonhando em chegar à seleção brasileira e à Europa, Mateus conclui valorizando suas inspirações no meio. “Com quem já trabalhei, minhas inspirações são o Chiquinho de Assis e o Sergio Moura. Trabalhei com o Chiquinho no Bahia, era um veterano, mas muito ligado nos métodos de treino. E na metodologia, um nome que estudo muito é do holandês Raymond Verheijen”, finalizou.