Destaque nas categorias inferiores, Felipe Almeida aponta aspectos específicos para formação de atletas: “Os mais novos estão mais abertos às novidades”
Formar atletas é um desafio para qualquer profissional do futebol que inicia na carreira como treinador. Entre os diversos aspectos, individuais, coletivos e sociais, é preciso aplicar ideias e tornar o esporte dinâmico e divertido. O técnico Felipe Almeida, que comandou as categorias menores do Paraná Clube nos últimos anos, explicou seus métodos para desenvolver esse trabalho.
Em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br, Felipe explicou que 100% dos seus treinos é com bola, sendo 85% seguindo uma metodologia sistêmica.
“Ensinamos cada princípio e conceito mostrando as vantagens que os meninos terão em cada momento do jogo. Temos algumas prioridades para execução do nosso estilo. Usamos também, em alguns momentos, a metodologia analítica, principalmente no pré-treno, onde eles treinam finalizações, embaixadinhas e alguns movimentos mais lúdicos”, disse.
Esse processo tem como objetivo a aplicação dos conteúdos nas partidas. Quando as equipes comandadas por Felipe entram em campo, é possível observar algumas ideias claras, como a marcação alta e o jogo vertical, explicados por ele.
“Buscamos o gol o tempo todo, progredir no campo de forma vertical, com jogo apoiado, mobilidade e passe em progressão. Tentamos criar atividades nos treinos para serem aplicadas em jogo. São ideias que partem da transição e da posse de bola, criando sempre uma vantagem numérica. Quando não temos a bola, buscamos roubá-la para chegar ao gol o mais rápido possível. Defendemos através do ataque”, comentou.
Há dois anos no Paraná, o treinador passou desde a categoria sub-10 até a sub-17, seja como comandante principal ou auxiliar. Ele observa que, muitas vezes, os atletas mais jovens estão mais aptos a receberam novos conteúdos, já que os “mais velhos” podem vir com conhecimentos pré-determinados. Almeida também explica como aplicar conteúdos sem tirar a diversão do futebol para as crianças.
“O futebol é do agrado dos meninos. Então, atividade dinâmicas, que eles se sentem livres para praticarem e ganharem algum aprendizado serão divertidas. Vai do quanto conseguimos transformar uma atividade com conteúdo, dentro dos nossos ideias de jogo e que potencialize o menino em algo dinâmico, não em algo lento, parado”
“Algumas atividades têm diferenças na velocidade da execução e da técnica. Por exemplo: não exigimos de meninos mais novos movimentos complexos. Na categoria sub-17, alguns movimentos, como a saída de bola com três atletas, vão entrando com mais facilidade, pois eles já conhecem os movimentos mais simples. E alguns atletas mais velhos têm dificuldade de aprender, pois os meninos mais novos estão mais abertos às novidades”, completou Felipe.
Além da formação técnica e tática, outro aspecto fundamental do trabalho de qualquer profissional de base é o desenvolvimento do indivíduo. Almeida comenta que é preciso formular alguns mecanismos que incentivam o bom comportamento e o espírito esportivo dos atletas desde cedo.
“Nossa fala nunca é agressiva, com palavrões, a cobrança não pode invadir o emocional do atleta. Colocamos algumas regras de conduta, exigimos presença nos treinamentos. O atleta que faltava não era escalado, com exceção de casos muito especiais. Implementamos também o rodízio de capitães, para que todos sintam-se responsáveis pelas equipes, e pedimos para que os meninos comemorem os gols juntos, cumprimentar os adversários mesmo em caso de derrota”, ressaltou.
Trajetória
Felipe Almeida está ligado ao futebol desde a infância. Buscando a inserção no meio, ele se formou em Educação Física e fez Pós-Graduação em Metodologia do Treinamento, além de somar as Licenças B e C da CBF e diversos outros cursos. Após iniciar como estagiário no Mauaense e passar pelo Poaense, Almeida chegou ao Anhanguera em 2016, onde viveu um dos principais momentos na carreira.
Em 2017, a equipe, fruto de um projeto de formação de atletas, fez uma parceria com o Audax para a disputa do Paulistão Sub-15. Felipe lembra de uma partida especial, que marcou a classificação de seus comandados para a terceira fase do estadual.
“Precisávamos de uma vitória contra o Rio Branco na última rodada da segunda fase para classificarmos. O resultado veio, conseguimos o gol da vitória faltando cinco minutos para o fim do jogo, supramos as expectativas”, relembrou.
Em 2018, Felipe passou por um processo seletivo e foi contratado pelo Paraná Clube. Ele assumiu as equipes sub-10 e sub-12, além de ser auxiliar no sub-17. Em dois anos no clube, ele acumulou boas campanhas, mas que bateram na trave em diversos momentos. Ele foi vice-campeão paranaense sub-17 em 2018, sub-11 e sub-12 no ano passado, além de conquistar a Copa CVB sub-11 de 2019.
Apesar disso, o treinador acredita que seu trabalho vem aliando desempenho e resultado, o que é fundamental no desenvolvimento dos atletas.
“Buscamos a formação, passar conteúdo e desenvolver os atletas. Quando conseguimos transmitir nossas ideias e obter os resultados, ficamos felizes. Desenvolvemos sem abrir mão de jogar e, tendo resultados, provamos que os meninos estão aprendendo. Eles vão executar o que aprendem nos treinos nas partidas, mas é natural que erros aconteçam. Porém tivemos bons resultados e desempenho nesses últimos anos”
Com o contrato suspenso em meio à pandemia, Felipe espera assumir a equipe sub-15 do Tricolor na volta das atividades. Ele lamentou a pausa, que prejudica a programação das atividades.
“A pandemia prejudicou bastante a questão de conteúdo. Perdemos um ano de programação. Espero que possamos voltar o quanto antes. Os meninos estão com a preparação física fazendo atividades de casa, mas os treinadores estão com contrato suspenso”, comentou.
As inspirações de Felipe Almeida vão de Tite a Fernando Diniz, passando por nomes como José Mourinho, Pep Guardiola e Jurgen Klopp, já que para ele o importante é aprender com as diversas formas de se jogar. Buscando se tornar uma referência na formação de atletas para depois pensar no futebol profissional, o treinador ressalta o gosto pelo trabalho na base.
“Gosto muito de atuar na base, pois trabalhamos com o sonho de crianças, auxiliamos nas questões técnicas e tática, desenvolvemos eles como pessoas, acompanhamos quando os meninos sobem, se tornam profissionais e ficamos na torcida pra que eles tenham sucesso e que aprendam algo que passamos”, concluiu.